JULIO VILLANI | Vera Pedrosa

O cosmos brilhante que Julio Villani nos apresenta guarda as cores e as formas dos componentes materiais dos jogos infantis, aqueles que nos ajudam a construir nossas primeiras arquiteturas e, em última instância, a estruturar o próprio mundo interior que deverá nos sustentar, pessoalmente e por toda a vida, como um edifício-refúgio secreto. Essas formas dançantes em correspondência melodiosa aparecem, portanto, como elementos do processo contínuo de construção em que o artista se engaja espontaneamente e em total liberdade.

A poesia de Villani  remete tanto a sua nostalgia da infância quanto a sua contínua relevância em seus pensamentos. Apesar de sua abordagem lúdica, as “pequenas histórias” que arma testemunham um sentimento pungente de ausência, evocam essa saudade ou melancolia que, corrigida pelo otimismo, é percebida como um traço marcante do personagem brasileiro. Para o artista, essa dicotomia se torna uma meditação sobre a simultaneidade de tempos presentes e passados. A justaposição de alguns elementos formais e folhas manuscritas oriundas de um passado notarial também atesta da predileção de Villani por jogos de memória.

É, no entanto, um trabalho alegre. Dele recolhemos humor e inocência. A felicidade de criar é ressentida em toda a obra, a alegria é contagiante. O artista distribui as formas sobre o suporte, preocupando-se sobretudo em manter os equilíbrios propostos pelo seu jogo: os dos volumes, os do cromatismo e os da relação fugaz entre a figura e o fundo.  Sentimos o sopro de ar, saímos mas leves e revigorados.