Julio Villani, daqui de lá

Nascido no Brasil em 1956, Julio Villani viveu na Dinamarca, na Espanha e na Inglaterra nos anos 70, antes de se fixar na França nos anos 80.
Ainda que sua condição de estrangeiro seja assim um dado real, a estrangeirice é vivida por Villani não como um deslocamento no espaço mas como uma busca: é a possível revelação de um desconhecido encafuado em seu próprio corpo que o artista espreita.

Colagens, assemblages, pinturas, suas diversas explorações compõem cada uma um retrato, cujo propósito é menos de reconhecê-lo do que lhe permitir de enfrentar, em si mesmo, um duplo invertido – figura não por acaso recorrente em sua obra – que ele tenta desentocar por todas as vias e armas possíveis. 
A linha, sua constante aliada, se transforma por vezes em Equador. Enquanto scinde tão propositalmente seu corpo fragmentado entre seus dois países – oferecendo um eixo figurado ideal entre o artista e seu duplo vivendo de ponta-cabeça no outro hemisfério – ela une também os dois mundos. Como com as duas faces de um bordado, não há aqui face sem o verso, nem Norte sem o Sul.

Explorar o mundo em dicotomias não significa no entanto querer decompo-lo em partes esparsas. Um desejo de unidade – uma procura por uma plenitude perdida como a que deve conhecer uma criança, antes de perceber que o mundo e ela não fazem um – existe na obra de Villani. Ele o afirma por sua Origem do mundo, conjunto de imensos bilboquês – brinquedo que, como bem se sabe, exige grande habilidade para transformar duas peças em uma. Ele o significa através de suas Collapsible architectures, composições abstratas frequentemente feitas sobre duas telas justapostas, ou por seus Almost readymade, nos quais sonhos e objetos de refugo se amalgamam para formar seres híbridos.

Ele o reitera ainda por diferentes versões de Um coração, outro, composições onde São Paulo e Paris se encontram unidas por uma rede de linhas coloridas e de textos – às vezes em português, outras em francês – para formar um só e mesmo sistema vascular-afetivo: mão direita, mão esquerda, cada uma participando do mundo a sua maneira.

Variações que são todas auto-retratos. Afinal, o que é uma obra, senão o desdobramento infinito do que habita o artista?

RETRATO D’ÁGUA | Madeira, corda em cânhamo, objetos, espelho | 220 x 320 x 240 cm | Casa França-Brasil, Rio de Janeiro, 2004

AUTORETRATO COM EQUADOR | Óleo sobre tela | 180 x 130 cm | 2011

CARTA DE IDENTIDADE | Desenho bordado sobre lençol de linho e cânhamo | 208 x 178 cm | 2003

BILBOQUÊS ou A ORIGEM DO MUNDO | Madeira torneada, corda em cânhamo | 175 x 150 cm, tiges 194 x 33 x 33 cm | 2002 | Musée Zadkine, Paris, 2010

DE UM CORAÇÃO, OUTRO | Acrílica sobre papel | 440 x 85 cm | 2005 | Inserido em dispositivo de publicidade | Capela da Visitação, Thonon-les-Bains, 2011

NORTE SUL | Desenho bordado sobre lençol de linho e cânhamo | 285 x 200 cm | 2001

JULIO, PARIS, SÃO PAULO | Desenho bordado sobre lençol de linho e cânhamo | 126 x 91 cm | 2005

LANÇADEIRA (CASAS) | Objetos, fio | 25,5 x 41,5 x 5 cm | 2018

BISCOITOS AYMORÉ / BISCUITS AU BEURRE SALÉ (biface) | Papel, carvão, lápis de cor e acrílica sobre papel garimpado | 23 x 47,8 cm | 2019

BISCUITS AU BEURRE SALÉ / BISCOITOS AYMORÉ (biface) | Papel, carvão, lápis de cor e acrílica sobre papel garimpado | 23 x 47,8 cm | 2019

COBRA BICÉFALA | Objetos, madeira, acrílica | Dimensões variáveis | 2015

VAI-E-VEM (THE JET LAG PIECE) | Folha de flandres | 152 x 90 x 79 cm | 2012

RETRATO D’ÁGUA | Madeira, corda em cânhamo, objetos, espelho | 220 x 320 x 240 cm | Casa França-Brasil, Rio de Janeiro, 2004

AUTORETRATO COM EQUADOR | Óleo sobre tela | 180 x 130 cm | 2011

CARTA DE IDENTIDADE | Desenho bordado sobre lençol de linho e cânhamo | 208 x 178 cm | 2003

BILBOQUÊS ou A ORIGEM DO MUNDO | Madeira torneada, corda em cânhamo | 175 x 150 cm, tiges 194 x 33 x 33 cm | 2002 | Musée Zadkine, Paris, 2010

DE UM CORAÇÃO, OUTRO | Acrílica sobre papel | 440 x 85 cm | 2005 | Inserido em dispositivo de publicidade | Capela da Visitação, Thonon-les-Bains, 2011

NORTE SUL | Desenho bordado sobre lençol de linho e cânhamo | 285 x 200 cm | 2001

JULIO, PARIS, SÃO PAULO | Desenho bordado sobre lençol de linho e cânhamo | 126 x 91 cm | 2005

LANÇADEIRA (CASAS) | Objetos, fio | 25,5 x 41,5 x 5 cm | 2018

BISCOITOS AYMORÉ / BISCUITS AU BEURRE SALÉ (biface) | Papel, carvão, lápis de cor e acrílica sobre papel garimpado | 23 x 47,8 cm | 2019

BISCUITS AU BEURRE SALÉ / BISCOITOS AYMORÉ (biface) | Papel, carvão, lápis de cor e acrílica sobre papel garimpado | 23 x 47,8 cm | 2019

COBRA BICÉFALA | Objetos, madeira, acrílica | Dimensões variáveis | 2015

VAI-E-VEM (THE JET LAG PIECE) | Folha de flandres | 152 x 90 x 79 cm | 2012